Série de textos sobre a posição histórica contra a pedo-comunhão (2/8)



Traduzido por Lucio Manoel

I - Argumentos em favor de uma Profissão de Fé pessoal como pré-requisito para participação na Ceia do Senhor 

Nesta série de oito pequenos textos que serão publicados semanalmente, será apresentada uma visão consistente contra a pedo-comunhão que tem sido seguida por igrejas históricas de tradição reformada.

B - A CEIA DO SENHOR
Enquanto que o Batismo é o rito de iniciação da aliança, a Ceia do Senhor é o sacramento que nutre o participante para a maturidade da fé. O propósito do sacramento não é o de nutrir para a fé, mas “nutrir e sustentar aquele que Ele já fez nascer de novo e incorporou à Sua família”, como declara o Artigo 35 da Confissão de Fé Belga (1). Se dissermos que ser nascido de novo acontece por meio da fé da comunidade da aliança, evidenciada pelo Batismo, então nós estaríamos ensinando a regeneração batismal. O que nós temos sempre vigorosamente negado. A Ceia do Senhor é dado somente para os crentes, aqueles que têm pessoalmente se apropriado da promessa dada no batismo.


1. O relacionamento entre a Páscoa e a Ceia do Senhor
É frequentemente argumentado que assim como as crianças participavam da Páscoa, elas devem semelhantemente ser recebidas na Mesa do Senhor. Entretanto, os sacramentos do Novo Testamento não são exatamente paralelos aos ritos da circuncisão e Páscoa do Antigo Testamento; em vez disso, eles cumprem os ritos do Antigo testamento. 


A natureza da Nova Aliança muda certos aspectos dos ritos do Antigo Testamento. Exatamente como a ressurreição da Páscoa muda o dia de descanso da adoração do Sábado para o Domingo. Assim a universalização e internalização da Nova Aliança altera quem pode participar nos sacramentos. Se as crianças devem participar da Ceia do Senhor, simplesmente porque crianças participavam na Páscoa, então a igreja deve também batizar somente crianças do sexo masculino, da mesma forma que somente eles participavam no rito da circuncisão do Antigo Testamento. Porém, como a Nova Aliança universaliza as promessas da Antiga Aliança, os que agora recebem o Batismo são de ambos sexos, masculino e feminino. A universalização da aliança também influencia quem pode participar na Ceia do Senhor. Enquanto que a Páscoa era uma festa para o povo de Deus, para nascidos em uma família e nação judaica, a Ceia do Senhor é para aqueles que são nascidos de novo na família de Deus, dentre todas as nações.


A Nova Aliança também implica em uma internalização da fé, por meio da qual a Lei de Deus é escrita no coração das pessoas (Jr 31.31-34). Portanto, já que a Ceia do Senhor é um sacramento da Nova Aliança (Lc 22.20), regeneração e a fé procedente do coração são pré-requisitos necessários. Exatamente como a universalização da Nova Aliança afeta quem na comunidade da aliança pode participar no Batismo, assim também a internalização da Nova Aliança afeta quem pode participar na Ceia do Senhor. A Ceia do Senhor, diferentemente da Páscoa judaica, assume a internalização da fé da parte do participante. 


2. A interpretação de 1 Coríntios 11.17-34
A passagem principal descrevendo a prática da Ceia do Senhor (1Co 11.17-34) assume que o comungante deve ter tanto fé pessoal para professar a morte de Jesus (v.26), como a autoconsciência para discernir o significado do sacramento (v.29) e para examinar sua prontidão espiritual para participar (v.28).


Reconhecidamente, o propósito principal desta passagem não é se crianças podem participar na mesa. O interesse de Paulo é alertar o desobediente, mais do que o imaturo. Entretanto, como Berkouwer aponta “mesmo que nós reconheçamos prontamente esse caráter especial do comer e beber indignamente (especificamente, o Partir da comunhão), não pode ser negado que essa era somente uma forma de indignidade, e que outras podem surgir ao longo da história” (Sacraments, p. 255-56). A instrução geral dada no meio da passagem (vs. 23-29) pode ser aplicada para outras situações de ímpia e irreverente participação, tal como poderia acontecer com a participação de muitos filhos pequenos que não entendem o significado espiritual dos elementos. Como Bavinck diz “Essa exigência é estabelecida de um modo completamente geral, direcionado a todos os participantes na Ceia, e portanto, na natureza do caso, exclui crianças” (Gereformeerd Dogmatiek IV: 641-42. Kampen, Kok, 1911).


Em João 6, a outra passagem maior do Novo Testamento que descreve a natureza da Ceia do Senhor, participação no corpo e sangue de Cristo (Jo 6.52-58) é similarmente baseada sobre vir a e crer em Jesus como o pão da vida (Jo 6.35). Fé pessoal é pressuposto. O comer da carne de Cristo e o beber do seu sangue refere-se a um comer espiritual e místico da fé. 

(1) Clique para acessar uma cópia eletrônica da Confissão Belga



NOTA DO TRADUTOR


“universalização e internalização” são termos que se referem à expansão das promessas do Israel territorial e nacional para todas as terras e nações, em razão da fé que opera no coração.



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Comitê para Estudo de Clarificação da Pública Profissão de Fé para os Filhos da Aliança das Igrejas Cristãs Reformadas nos Estados Unidos da América (1991).


A parte do relatório da CRC que tratou do assunto está disponível em:


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