UMA NOIVA PARA ISAQUE, UMA NOIVA PARA CRISTO - Gênesis 24

 



por Pr. Flávio José da Silva

Gênesis 24 é o capítulo mais longo do livro de Gênesis. Nela, a mesma história é contada duas vezes - uma vez como acontece e uma vez como é relatado pelo servo de Abraão. O teste de Abraão por Deus está completo agora, e vemos a mudança de foco do patriarca para seu filho Isaque. A história da redenção está começando a se mover em direção ao segundo patriarca. Este movimento é feito completo no final do capítulo, quando a nova noiva, Rebeca, entra na tenda de Sara, declarando-se assim como a nova matriarca de Israel. A preocupação de Deus em Gênesis está sempre se movendo em direção ao cumprimento da promessa.


Depois da morte de Sara, Abraão ainda tinha mais uma tarefa de fé pela qual ele se sentia responsável. Com cento e quarenta anos de idade, Abraão era rico o suficiente para se aposentar e se aproveitar. Em vez disso, ele olhou para o futuro - para as promessas de Deus - e agiu de acordo com essas promessas. Ele sabia que as promessas que Deus lhe dera seriam conduzidas através de seu filho até o dia de seu cumprimento. Isaque não era apenas o dom milagroso dado pelo amor fiel de Deus, ele também era o herdeiro das promessas que Deus havia dado a Abraão. Quão necessário, então, seria que filho tivesse uma esposa que cresse em Deus e que estivesse ligada às promessas de Deus. Abraão, no entanto, vivia no país cercado por cananeus ateus. Se Isaque casasse com uma delas, seus laços com a família trariam deuses falsos para a família. Nem Abraão permitiu que Isaque deixasse a terra da promessa, para que ele não retornasse. A solução encontrada por Abrão foi enviar um servo de confiança para encontrar uma esposa para Isaque. Tão certo quanto Deus providenciou o carneiro no sacrifício exigido por Deus anteriormente, (Gênesis 22:13), assim também Deus proveria a noiva adequada.



As escrituras não identificam o servo Abraão encarregado da tarefa de encontrar uma esposa para seu filho. Muito provavelmente foi Eliezer de Damasco que Abraão havia planejado fazer de seu herdeiro (Gênesis 15: 2). Quem quer que ele fosse, ele era um homem piedoso. Ele era leal ao seu senhor e entendia sua responsabilidade e cumpriria até o fim.


Com fé, o servo de Abraão partiu com dez camelos carregados de jóias, vestimentas e outros presentes, talvez como um dote ou para ilustrar a capacidade de Isaque de sustentar uma esposa. Algo importante para os jovens hoje. Você quer namorar para depois casar? No minimo procure um emprego. Voltando ao texto, depois de viajar cerca de 400 quilômetros até a cidade de Naor, o servo curvou-se diante de Deus em oração, Ó SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, rogo-te que me acudas hoje e uses de bondade para com o meu senhor Abraão!



O servo de Abraão reconheceu sua própria fraqueza e procurou orientação divina de Deus. Ele descansou na providência de Deus para usar eventos comuns para revelar Sua vontade para a noiva de Isaque. Em sua oração, ele pediu uma mulher trabalhadora e diligente que também fosse hospitaleira e reunisse os traços da mulher piedosa. Com essa oração, o servo colocou-se em total confiança em Deus, pois somente o soberano Deus poderia orientar eventos de forma tão detalhada.



Deus respondeu a oração do servo. Uma jovem bonita ofereceu-lhe água. Depois que ele terminou de beber, ela tirou água para todos os camelos. Esta não foi uma tarefa pequena. Camelos podem beber 20 a 30 litros de água - cada um! Poços antigos eram grandes buracos profundos na terra com degraus que levavam a uma nascente. Cada tirada de água exigiria um esforço substancial por parte da jovem. Se a jarra de água de Rebeca fosse típica da época, ela teria apenas cerca de três galões de água. Isso significava que Rebeca tinha que levar entre oitenta e cem subidas e descidas de escadas até a fonte para saciar a sede dos camelos sedentos.


Depois que a tarefa foi concluída, o servo descobriu que Deus o havia levado à família certa, já que a jovem era parente de Abraão. Imediatamente, o servo se curvou e adorou a Deus. A referência do servo do nome de Abraão também levou a uma resposta feliz de Rebeca. Ela estava tão feliz que correu para contar a sua família, deixando o servo de Abraão para trás.



Chegando na casa dos parentes de Abraão, o servo fiel de Abraão contou os eventos que aconteceram, incluindo a tarefa de Abraão para encontrar uma noiva para seu filho, sua busca para encontrar Naor e seu encontro providencial com Rebeca. O servo de Abraão estava convencido de que, se os pais de Rebeca entendessem como Deus o havia conduzido à filha deles, eles não teriam outra escolha a não ser deixar que Rebeca retornasse com ele para ser a noiva de Isaque. Embora eles mostrassem grande hospitalidade ao servo de seu parente distante e reconhecessem que o assunto era de Deus, a família estava relutante em mandar Rebeca embora imediatamente. Sua mãe e seu irmão pediram que Rebeca ficasse com eles alguns dias (ou meses) antes de entrasse em uma jornada tão longa.



Já neste capítulo recebemos dicas sobre a astúcia do irmão de Rebeca, Labão. Ele mostrou a grande hospitalidade do servo de Abraão - depois que ele viu o anel e as pulseiras que Rebeca havia recebido (Gênesis 24:30). Ele também fez menção especial aos camelos (v. 31), animais considerados um luxo até para os ricos. Sem dúvida, Labão já estava planejando maneiras de aliviar o servo viajante de Abraão de suas posses.



Rebeca, por outro lado, viu a mão de Deus nos primeiros eventos do dia. Como Abraão décadas antes, ela sabia que Deus estava chamando-a para deixar seu próprio país, sua família e a casa de seu pai para ir a uma terra da qual ela sabia muito pouco. “Rebeca” soa muito como a palavra hebraica para “bênção” (berakah). A bênção que Rebeca recebeu ao deixar sua casa foi muito semelhante à promessa de Deus dada a Abraão. A bênção incluía a promessa de muitos descendentes, posse de cidades e domínio sobre os inimigos. Embora ela não tenha percebido isso, a futura esposa de Isaque estava recebendo a mesma bênção que Deus deu a Abraão depois que ele ofereceu seu futuro marido como sacrifício a Deus (Gênesis 23:17).



Só podemos imaginar as conversas que Rebeca teve com o servo de Abraão durante aquela viagem de um mês a Canaã. Quão curiosa ela deve ter ficado sobre seu futuro marido, sobre a terra para a qual ela estava viajando, sobre os costumes e muito mais. Os pais da igreja primitiva têm retratado a busca pela noiva de Isaque como análoga à noiva de Cristo.


Os casamentos arranjados que eram o costume no antigo oriente próximo ilustram um padrão de graça. Dizem que Abraão representa Deus, o Pai, buscando uma noiva para o Seu Filho, Jesus Cristo. Em Sua graça, o soberano Deus iniciou nossa jornada na igreja, escolhendo uma noiva para o Seu Filho (Efésios 1:4). Jesus fala daqueles que Ele salvou como aqueles que o Pai Lhe deu (João 17:6–12).



Permita-me fazer uma analogia de Isaque, o filho, com Jesus Cristo. Isaque se submeteu a ser sacrificado por seu pai. Enquanto Abraão não tinha que completar o sacrifício, o Filho de Deus pagou um grande preço pela redenção de Seu povo - não de prata ou ouro, mas Seu próprio sangue precioso foi derramado por Sua noiva (1 Pedro 1:18, 19). Agora, o Cristo espera pelo tempo glorioso em que Ele e a noiva estão unidos para todo o sempre (Apocalipse 19: 7–9).



De acordo com os primeiros pais da igreja, o servo de Abraão representa o Espírito Santo. Mesmo quando o servo nunca falou em seu próprio nome, mas sempre apontou para o pai e filho, assim também o Espírito Santo atrai a igreja para o Pai através do Filho. É o Espírito Santo quem convence as pessoas dentro da igreja de seus pecados e misérias, revela que a libertação está disponível através de Jesus Cristo, e então os chama a viver em gratidão a Deus pela salvação que Ele providenciou.



E finalmente, Rebeca representa a igreja como ela confia no que ela aprendeu do servo sobre o filho, confiando que sua palavra é verdadeira, e que sua viagem está segura enquanto ela seguir sua liderança. Como Rebeca deixou tudo para trás para o noivo dela; então a igreja viaja por esta terra árida olhando para a cidade cujo arquiteto e construtor é Deus. Assim como Rebeca deve ter ouvido atentamente o servo dizer a ela sobre seu futuro noivo e as promessas que Deus havia dado à família de Abraão, a igreja prontamente escuta cada Dia do Senhor sobre o trabalho realizado pelo Noivo na cruz do Calvário, sabendo que através dele vêm as promessas de reconciliação, perdão e vida eterna.


Pastor Flávio José da Silva é ministro da Palavra na Igreja Reformada em Maceió

Postado com autorização







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